segunda-feira, 24 de maio de 2010

CEGUEIRA PROFUNDA

Por Vanderlei do Couto

Leitura Bíblica - E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim. (Marcos 10:47)

A visão é um dos sentidos de fundamental importância. O patriarca Isaque por exemplo, na velhice, quando suas vistas estavam escurecidas, foi ludibriado por causa do conluio arquitetado por sua mulher Rebeca e seu filho Jacó. Isaque foi enganado pela falta da visão. Os demais sentidos não lhe auxiliaram quando ministrou a benção patriarcal sobre Jacó (Gênesis 27:1-29).
Um cego chamado Bartimeu, estava sentado na beira do caminho mendigando, quando ouviu que Jesus de Nazaré estava saindo de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, começou a clamar em alta voz. O grito de socorro: “Jesus, Filho de Davi, tenha misericórdia de mim”. Jesus, além de curá-lo, deu-lhe a percepção de que o único caminho para salvação estava à sua disposição, assim ele seguiu a Jesus pelo caminho.
Enquanto Bartimeu nos dá esta importante lição de fé e coragem, muitos de nós, salvos por Cristo acabamos perdendo a visão. À medida que caminhamos, perdemos muitas vezes Jesus de vista. Cego mesmo é aquele que enxerga e não vê. Perdemos a visão quando não reconhecemos Jesus em nossa vida. Quando a igreja seculariza-se, ela perde a visão em Jesus. A razão fala mais alto que o Espírito, os bens temporais são mais importantes que as pessoas, a riqueza terrena fica acima do anseio pela eternidade.
Perdemos a visão quando voltamos a sentar na beira do caminho, permanecendo inertes àquilo que está corroendo a sã doutrina. Perdemos a visão quando voltamos a mendigar deixando de buscar água na fonte (Palavra de Deus). Qualquer movimento que promova mais o humano do que a glória de Deus, levará muitas vidas à cegueira espiritual. Deixar de clamar é sinal de perca da visão. Bartimeu foi curado porque insistiu em clamar, seu clamor foi direcionado. Necessitamos de pedir a Jesus que nos socorra para não entrarmos na escuridão chamada trevas espirituais.


Oremos pela restituição da visão bíblica para a igreja de Cristo, da qual somos membros, salvos por sua graça.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O QUE ESTAMOS ESPERANDO?

Por Vanderlei do Couto

Por que Paulo disse que os cristãos seriam os mais miseráveis de todos os homens se esperassem apenas pelas bênçãos terrenas? Estava em foco instruções à igreja de Corinto acerca da ressurreição, uma vez que muitas pessoas daquele local não criam que fosse assim, ou pelo menos entendiam a ressurreição de uma maneira diferente. Paulo disse: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que foi visto por Cefas e depois pelos doze”.
Depois, foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois, foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos e, por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como a um abortivo. Paulo procurou enfatizar através deste texto, que todos os cristãos deveriam pregar mais a palavra da salvação, do perdão dos pecados, da vida eterna em Jesus Cristo, do que ocuparem-se com as coisas terrenas. Fala-se muito hoje em dia a respeito de conquistas passageiras.
Tomo como exemplo os bens materiais que satisfazem aos desejos ou necessidades humanos, curas, conquistas amorosas, riquezas, poder, fama, coisas transitórias ou que perecem pelo uso. Bens materiais, fama, tudo perece com o passar do tempo. Tudo é ótimo desde que não reflita a essência de nossa procura. Jesus disse: “Antes buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”. Vale muito mais a certeza de possuirmos a vida eterna, e deve ser esta nossa principal ambição ou esperança. As Boas Novas a respeito de Jesus Cristo nos salvarão se crermos firmemente nelas e a seguirmos fielmente. Lembre-se deste alerta: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”.

A ansiedade é o grande flagelo dos tempos modernos: é um traiçoeiro adversário, aniquilador da personalidade humana.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O RÓTULO

Por Vanderlei do Couto

Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. (Gálatas 1:11)
O rótulo é o impresso que identifica o conteúdo, as características ou a composição de um produto. Mesmo que a embalagem seja trabalhada com esmero, é o rótulo que indicará a qualidade do produto, sua procedência e, no caso de alimento, sua composição energética e seus nutrientes. Ao identificar um produto perecível, o rótulo vai dar ao consumidor a ideia de todas as propriedades a ele pertinentes, inclusive prazo de validade.
Ao examinar a carta de Paulo aos Gálatas, percebi nitidamente esta questão do rótulo. Os dez primeiros versículos trazem uma base vigorosa e rigorosa, sobre a natureza da rotulação dada pelos mestres judaizantes em relação ao apóstolo, despertando dúvidas em relação à mensagem do Evangelho anunciada por ele aos irmãos da Igreja na Galácia. Paulo invoca sobre si o anátema (maldição eterna), caso anunciasse outra mensagem que não a que já houvera publicado. O apóstolo possuía plena convicção de que o Evangelho da redenção por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo era e sempre seria suficiente para promover a salvação do ser humano.
A fé no sacrifício vicário do Unigênito Filho de Deus e a entrega total a Ele com arrependimento, foi o foco da mensagem de Paulo. Precisamos rever a natureza da mensagem que estamos pregando para que o rótulo que nos colocarem mostre um conteúdo autêntico, sem falsificação. Quando estamos certos de que nosso chamado procedeu diretamente de Cristo, passamos a dar o crédito à Pessoa de direito. A nossa eleição é meramente testemunhal, ou seja, os fiéis são instrumentos de Deus para revelarem a verdade do evangelho por meio da pregação, que não consiste somente de palavras, mas de atitudes, mudança de caráter que identificam a Pessoa de Jesus Cristo na vida da testemunha. O crédito de nossa salvação é cem por cento de Cristo. Nós, os remidos, fomos desarraigados da era presente e estamos sendo preparados para a era futura.

Estejamos alertas para não entrarmos na onda da secularização do evangelho.

terça-feira, 23 de março de 2010

O que a felicidade não é

A idéia errônea do que seja a verdadeira felicidade pode vir a ser a principal causa da infelicidade. A pessoa mal informada buscará um estado de contentamento inexistente, quando não impossível. A influência da literatura ingênua e o apego à preguiça tornam muitas pessoas presas fáceis de uma felicidade que ninguém alcança. Convém, pois, apontar o que a felicidade não é, deixando claro, por eliminação, o que ela é.
A felicidade não tem ligação com a ausência de embaraços, dificuldades, imprevistos, oposição ou embates. Antes, a presença destas coisas exercita e valoriza a vida. Muitas vezes quebram a rotina e servem de degraus para posições mais altas.
A felicidade não depende de circunstâncias favoráveis. Se fosse circunstancial, ela sofreria duros golpes, deixando-nos, sem mais nem menos, na mão. Seria instável, transitória, incerta. A felicidade deve apoiar-se sobre base mais profunda, para não estar sujeita a fatores que nem sempre estão sob o controle humano.
A felicidade não é resultado da satisfação de todo desejo do coração. Os nossos desejos freqüentes são contraditórios e surgem de fontes opostas entre si. Qualquer pessoa descobre que a não satisfação de certos desejos, conquanto fortes e audaciosos, resulta em extraordinária felicidade. Há muito tempo, o rei Jorge V, morto em 1936, declarou que “o segredo da felicidade não está em se fazer aquilo que a gente gosta de fazer, e, sim, em aprender a gostar daquilo que se deve fazer”.
A felicidade não significa uma aceitação silenciosa e compulsória das dificuldades existentes, como se fossem determinadas por Deus. A resignação é virtude cristã e preciosa, mas não deve ser confundida com a indisposição para a luta nem com o medo, a covardia ou a falta de fé. Quando a Bíblia diz “que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28), ela não está sugerindo passividade, mas, antes, o aproveitamento de toda ocorrência, dada ou permitida por Deus, para benefício do verdadeiro cristão.
Na verdade, a felicidade está na comunhão perene do homem com Deus. Fora disso ela é efêmera e, para subsistir um pouco mais, precisa de recursos quase sempre escassos e de valor transitório.
Elben M. Lenz César
Fonte: http://www.ultimato.com.br

segunda-feira, 8 de março de 2010

Crente Fica Doente?

Creio em milagres. Creio que Deus cura hoje em resposta às orações de seu povo. Durante meu ministério pastoral, tenho orado por pessoas doentes que ficaram boas. Contudo, apesar de todas as orações, pedidos e súplicas que os crentes fazem a Deus quando ficam doentes, é um fato inegável que muitos continuam doentes e eventualmente, chegam a morrer acometidos de doenças e males terminais.

Uma breve consulta feita à Capelania Hospitalar de grandes hospitais de algumas capitais do nosso país revela que há números elevados de evangélicos hospitalizados por todos os tipos de doença que acometem as pessoas em geral. A proporção de evangélicos nos hospitais acompanha a proporção de evangélicos no país. As doenças não fazem distinção religiosa.
Para muitos evangélicos, os crentes só adoecem e não são curados porque lhes falta fé em Deus. Todavia, apesar do ensino popular que a fé nos cura de todas as enfermidades, os hospitais e clínicas especializadas estão cheias de evangélicos de todas as denominações – tradicionais, pentecostais e neopentecostais –, sofrendo dos mais diversos tipos de males. Será que poderemos dizer que todos eles – sem exceção – estão ali porque pecaram contra Deus, ficaram vulneráveis aos demônios e não têm fé suficiente para conseguir a cura?
É nesse ponto que muitos evangélicos que adoeceram, ou que têm parentes e amigos evangélicos que adoeceram, entram numa crise de fé. Muitos, decepcionados com a sua falta de melhora, ou com a morte de outros crentes fiéis, passam a não crer mais em nada e abandonam as suas igrejas e o próprio Evangelho. Outros permanecem, mas marcados pela dúvida e incerteza. Eu gostaria de mostrar nesse post, todavia, que mesmo homens de fé podem ficar doentes, conforme a Bíblia e a História nos ensinam.
1. Há diversos exemplos na Bíblia de homens de fé que adoeceram. Ao lermos a Bíblia como um todo, verificamos que homens de Deus, cheios de fé, ficaram doentes e até morreram dessas enfermidades. Um deles foi o próprio profeta Eliseu. A Bíblia diz que ele padeceu de uma enfermidade que finalmente o levou a morte: “Estando Eliseu padecendo da enfermidade de que havia de morrer” (2Re 13.14). Outro, foi Timóteo. Paulo recomendou-lhe um remédio caseiro por causa de problemas estomacais e enfermidades freqüentes: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1Tm 5.23).
Ao final do seu ministério, Paulo registra a doença de um amigo que ele mesmo não conseguiu curar: “Erasto ficou em Corinto. Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto” (2Tm 4.20).O próprio Paulo padecia do que chamou de “espinho na carne”. Apesar de suas orações e súplicas, Deus não o atendeu, e o apóstolo continuou a padecer desse mal (2Co 12.7-9). Alguns acham que se tratava da mesma enfermidade da qual Paulo padeceu quanto esteve entre os Gálatas: “a minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo nem desgosto” (Gl 4.14). Alguns acham que era uma doença nos olhos, pois logo em seguida Paulo diz: “dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar” (Gl 4.15). Também podemos mencionar Epafrodito, que ficou gravemente doente quando visitou o apóstolo Paulo: “[Epafrodito] estava angustiado porque ouvistes que adoeceu. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Fp 2.26-27).
Temos ainda o caso de Jó, que mesmo sendo justo, fiel e temente a Deus, foi afligido durante vários meses por uma enfermidade, que a Bíblia descreve como sendo infligida por Satanás com permissão de Deus: “Então, saiu Satanás da presença do Senhor e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se” (Jó 2.7-8). O grande servo de Deus, Isaque, sofria da vista quando envelheceu, a ponto de não saber distinguir entre Jacó e Esaú: “Tendo-se envelhecido Isaque e já não podendo ver, porque os olhos se lhe enfraqueciam” (Gn 27.1). Esses e outros exemplos poderiam ser citados para mostrar que homens de Deus, fiéis e santos, foram vitimados por doenças e enfermidades.
2. O mesmo ocorre na História da Igreja. Nem mesmo cristãos de destaque na história da Igreja escaparam das doenças e dos males. João Calvino era um homem acometido com freqüência de várias enfermidades. Mesmo aqueles que passaram a vida toda defendendo a cura pela fé também sofreram com as doenças. Alguns dos mais famosos acabaram morrendo de doenças e enfermidades. Um deles foi Edward Irving, chamado o pai do movimento carismático. Pregador brilhante, Irving acreditava que Deus estava restaurando na terra os dons apostólicos, inclusive o da cura divina. Ainda jovem, contraiu uma doença fatal. Morreu doente, sozinho, frustrado e decepcionado com Deus.
Um outro caso conhecido é o de Adoniran Gordon, um dos principais líderes do movimento de cura pela fé do século passado. Gordon morreu de bronquite, apesar da sua fé e da fé de seus amigos. A. B. Simpson, outro líder do movimento da cura pela fé, morreu de paralisia e arteriosclerose. Mais recentemente, morreu John Wimber, vitimado por um câncer de garganta. Wimber foi o fundador da igreja Vineyard Fellowship (“A Comunhão da Vinha ou Videira”) e do movimento moderno de “sinais e prodígios”. Ele, à semelhança de Gordon e Simpson, acreditava que pela fé em Cristo, o crente jamais ficaria doente. Líderes do movimento de cura pela fé no Brasil também têm ficado doentes. Não poucos deles usam óculos, para corrigir defeitos na vista e até têm defeito físico nas mãos.
O meu ponto aqui é que cristãos verdadeiros, pessoas de fé, eventualmente adoeceram e morreram de enfermidades, conforme a Bíblia e a História claramente demonstram. O significado disso é múltiplo, desde o conceito de que as doenças nem sempre representam falta de fé até o fato de que Deus se reserva o direito soberano de curar quem ele quiser.
Augustus Nicodemus Lopes - http://tempora-mores.blogspot.com

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NUM DAQUELES DIAS...

Por Vanderlei do Couto

Após a oração matinal e leitura que faço todas as manhãs, onde procuro seguir fielmente meu cronograma de leitura anual da Bíblia pela décima nona vez, ou décimo nono ano consecutivo, me deparo neste domingo comigo mesmo, defronto com meu espectro. Com todo o conhecimento bíblico adquirido nos últimos vinte e três anos de ministério, sendo que dezoito só no pastorado verifiquei que com todo este histórico e experiências continuo sendo dependente. Não posso fazer nada sem Jesus. Afinal, isto é um bom sinal! Minha vida foi confiada a Ele pelo Pai. Jesus disse que a vontade do Pai é que nenhum de todos aqueles que Ele Lhe deu se perca.Cada vez mais entendo que sem Ele, sem a Sua presença, sem a ação de Seu Espírito Santo eu não posso realizar nada. Comecei a buscar inspiração para pregar a Santa Palavra no culto que viria logo após anoitecer, e percebi mais uma vez que se não me esvaziar de mim mesmo não posso ser instrumento nas mãos de Deus. Estou escrevendo isto num momento de grande conflito interior, onde talvez possa nomear o combate de espinho na carne ou sei lá o que! Hoje, janeiro de dois mil e dez, conto com cinqüenta e três anos e quem já chegou ou passou por esta fase sabe um pouco do que relato. Aos mais novos, quando lá chegarem saberão de que estou falando. Surgem indagações na mente, às vezes dúvidas, não sobre o Senhor, mas sobre a gente mesmo. Enfim, depois de aconselhar a tantos e de alguma forma ajudá-los pela graça de Deus, não me considero livre cem por cento de qualquer ataque, pois não ignoro os ardis do inimigo.Agora me vem um texto à memória, que se encontra no livro de Hebreus onze, sobre o firme fundamento chamado fé e como os ditos e reconhecidos heróis da fé ou da confiança alcançaram testemunho. Eles alcançaram testemunho simplesmente por que confiaram. Eram homens sujeitos as mesmas paixões que eu e todos os meus semelhantes. Confiaram, simplesmente confiaram na palavra que Deus lhes deu. Dentre alguns exemplos de vida destes heróis da fé citarei Noé, que foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé, só por que preparou a arca como Deus lhe ordenara, condenando o mundo e salvando sua família. Outro grande exemplo é Abraão. Este, morreu na fé sem ter recebido as promessas, mas vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessou que era estrangeiro e peregrino na terra. Com isso mostrou que Deus já lhe preparou uma cidade e não somente a ele, mas a todos os que pela fé perseveram em seguir os ensinos que trazem esperança, isto é, a Palavra de Deus.Se homens simples como os citados, outros registrados ainda na Bíblia e nos anais da história cristã pelos séculos passados conseguiram vencer seus conflitos pessoais, porque que eu e você também não podemos vencer os nossos? A luz sobre a minha e tua vida vem exatamente no momento em que mais precisamos. Basta confiar e sentar no divã do Analista dos analistas. O Senhor Jesus sempre está presente e quer cooperar conosco. Está escrito no livro de Marcos, capítulo dezesseis e versículo vinte: “E eles, os discípulos, tendo partido, pregaram por todas as partes, COOPERANDO com eles o SENHOR, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram.” Os mesmos sinais seguem aos que crêem. Sinais de refrigério pessoal. Sinais de renovo espiritual. Sinais da presença do Espírito Santo. Lembre-se: Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Amém. Graças a Deus.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O povo da caverna

Há muito tempo atrás, ou talvez não muito tempo assim, havia uma tribo em uma caverna fria e escura. Os habitantes da caverna se apertavam e gritavam contra o frio. Eles se lamentavam em voz alta e demoradamente. Era só isso que faziam. Era tudo o que sabiam fazer. Os sons na caverna era tristes, mas as pessoas não sabiam disso, porque nunca tinham conhecido a vida.
Mas, então, um dia eles ouviram uma voz diferente. “Eu ouvi seu choro” ela disse. “Eu senti seu frio e vi as suas trevas. Eu vim para ajudar”.
Os habitantes da caverna permaneceram em silêncio. Eles nunca tinham ouvida esta voz. A esperança soava estranho aos seus ouvidos. “Como é que vamos saber que você veio ajudar?”
“Confiem em mim”, ele respondeu. “Eu tenho o que vocês precisam”.
O povo da caverna examinou no escuro até a figura do estranho. Ele estava empilhando alguma coisa, então curvava-se e empilhava mais.
“O que você está fazendo?”, alguém gritou, nervoso.
O estranho não respondeu.
“O que você está fazendo?”, gritou alguém em voz ainda mais alta.
Nenhuma resposta ainda.
“Diga-nos”, exigiu um terceiro.
O visitante ficou em pé e falou na direção das vozes: “Eu tenho o que vocês precisam”. Com isso ele virou-se para a pilha a seus pés e acendeu-a. A madeira pegou fogo, chamas levantaram-se e a luz encheu a caverna.
O povo da caverna afastou-se com medo. “Ponha isso para fora”, gritaram.
“Dói olhar para isso”.
“A luz sempre dói antes de ajudar”, ele respondeu. “Cheguem mais perto. A dor logo vai passar”.
“Eu não”, declarou uma voz.
“Nem eu”, concordou uma segunda.
“Só um tolo iria se arriscar a expor seus olhos a uma luz assim”.
O estranho chegou perto do fogo. “Vocês prefeririam a escuridão? Prefeririam o frio? Não consultem seus temores. Dêem um passo de fé.

Por um bom tempo ninguém falou. As pessoas pairavam em grupos cobrindo os olhos. O fazedor de fogo ficou de pé próximo do fogo. “Está quente aqui”, convidou.
“Ele está certo”, alguém atrás dele anunciou. “Está mais quente”. O estranho virou-se e viu um vulto caminhando em direção ao fogo. “Eu consigo abrir meus olhos agora”, ela proclamou. “Eu consigo ver”.
“Chegue mais perto”, convidou o fazedor de fogo.
Ela chegou. Ela caminhou para o anel de luz. “Está tão quente!” Ela estendeu as mãos e suspirou quando o frio começou a passar.
“Venham, todos! Sintam o calor”, ela convidou.
“Quieta, mulher”, gritou um dos habitantes da caverna. “Vai ousar nos arrastar para a sua tolice? Deixe-nos e leve sua luz com você”.
Ela virou-se para o estranho. “Por que eles não virão?”
“Eles escolhem o frio, porque embora é frio, é o que eles conhecem. Eles preferem ficar com frio do que mudar.”
“E viver no escuro?”
“E viver no escuro.”
A agora quente mulher ficou em silêncio. Olhando primeiro no escuro e depois no homem.
“Você vai sair do fogo?”, perguntou.
Ela fez uma pausa e então respondeu: “Eu não posso. Eu não consigo suportar o frio.” Então ela falou novamente: “Mas também não posso suportar pensar no meu povo no escuro.
“Você não tem que fazer isso”, ele respondeu, alcançando o fogo e tirando um graveto. “Leve isto para o seu povo. Diga-lhes que a luz está aqui e que a luz é quente. Diga-lhes que a luz é para todos os que quiserem.”
E assim ela pegou a pequena chama e caminhou para dentro das sombras.

Autor: Max Lucado

A morte do púlpito

A igreja evangélica brasileira vive uma tragédia: a morte do púlpito. Nunca na história do protestantismo houve tanto desprezo pela pregação cristocêntrica, preparada com esmero e preocupada com a correta interpretação das Escrituras. O púlpito tem sido substituído pelo altar dos “levitas” ou para os ”sacrifícios” em dinheiro dos mercenários mercantilistas. A “pregação” da Palavra é, hoje, conceituada como qualquer um que sobe na plataforma e começa a falar ou gritar.
Talvez você, lendo esse texto, pense: - “Na minha igreja a pregação é sempre um espaço grande e recebemos visitas de diversos pregadores”. Esse artigo quer alertar que não basta um tempo grande para a pregação e nem que a plataforma esteja cheia de homens engravatados; antes é necessária a avaliação da qualidade dessa pregação. A pregação precisa ser avaliada, assim como fazia os cristãos bereanos, que por sua nobreza, comparam as homilias de Paulo com as Sagradas Escrituras.
Quais são as causas da “morte do púlpito” no evangelicalismo moderno?

A) Espiritualidade em baixa é igual à pregação sem qualidade.

A pobreza das pregações é evidente nesses últimos dias, pois isso é conseqüência direta da pobreza na vida cristã, pois como dizia Arthur Skevington Wood: “Leva-se uma vida inteira para preparar um sermão, porque é necessária uma vida inteira
para preparar um homem de Deus”. Enquanto a espiritualidade da Igreja estiver em baixa, a pregação, por mais espiritual que ela pareça ser, não passará de palavras jogada ao vento. Não basta uma pregação erudita, mas a erudição deve ser acompanhada de contrição, humildade e oração, pois bem escreveu E. M. Bounds: “Dedique-se ao estudo da santidade de vida universal. Sua utilidade depende disso. Seus sermões duram não mais do que uma ou duas horas; sua vida prega a semana inteira.”
Hoje existem muitas igrejas que oram “bastante”, são campanhas atrás de campanhas, mas essas orações não passam de busca “dos próprios deleites” ou de “determinações” de bênçãos. Ora, a oração sem a busca da face de Deus é uma característica do evangelicalismo contemporâneo. Uma igreja que ora errado, logo terá pregadores pobres.

B) A falta de preparo para pregar.

Erudição, esmero e homilética não são inimigos da espiritualidade. Um mito vigente na igreja brasileira é que quem se prepara muito para pregar, terá uma pregação “não ungida”. Isso é mera desculpa de pregador preguiçoso. Você, leitor, já deve ter visto alguém dizer: - “Quando cheguei aqui não sabia o que ia pregar, mas assim que subi nesse altar o Espírito Santo me revelou outra Palavra” ou “Eu não preparo pregação, o Espírito de Deus me revela”… São frases irresponsáveis e brincam com o Espírito Santo, atribuindo a Ele sua preguiça de passar várias horas em estudo e oração para pregar a Palavra.
Hoje, pregar com esboço em papel é quase um pecado em muitas igrejas; alguns olham com “cara feia” para os que levam algo escrito em sua homilia. Será que não sabem que um dos sermões mais impactantes da história, foi literalmente lido pelo pregador. Esse sermão era “Pecadores na mão de um Deus irado”, que Jonathan Edwards pregou em 08 de Julho de 1741 na capela de Enfield. O biógrafo de Edwards, J. Wilbur Chapman , relatou:

Edwards segurava o manuscrito tão perto dos olhos, que os ouvintes não podiam ver-lhe o rosto. Porém, com a continuação da leitura, o grande audi tório ficou abalado. Um homem correu para a frente, cla mando: Sr. Edwards, tenha compaixão! Outros se agarra ram aos bancos, pensando que iam cair no Inferno. Vi as colunas que eles abraçaram para se firmarem, pensando que o Juízo Final havia chegado.[1]

C) Ter uma visão pragmática sobre a pregação.

Para muitos, uma pregação só é válida se houver resultados. As pessoas não querem saber se o conteúdo da pregação é biblico ou herético, mas preferem esperar pelos resultados propagados pelo pregador. A primeira motivação dos pragmáticos é buscar a praticidade, portanto o pragmatismo é casado com o imediatismo, onde tudo tem quer ser aqui e agora.
O conceito de pregação “ungida” é bem pragmática, pois para boa parte da comunidade evangélica, a boa pregação tem que envolver o emocional, nesse contexto nasce frases do tipo “crente que não faz barulho está com defeito de fabricação”. Se não houver choro, gritos, pulos ou outras manifestações “espirituais”, a pregação perde o seu valor para aos cristãos atuais.
Pregadores pragmáticos gostam de ver seus ouvintes interagindo exageradamente no culto. É constante dos pregadores mandarem as pessoas glorificarem e até falar em línguas. Nesses cultos a justificativa para essas ordens é que “quando a glória daIgreja sobe, a glória do céu desce”. Não há respaldo bíblico para esse tipo de pensamento que é passado como algo bíblico. A emoção e as experiências fazem parte da vida cristã, mas não devem normatizar a liturgia ou direcionar os crentes, pois os verdadeiros cristãos tem a Palavra de Deus, e somente Ela, como regra de fé e prática.

D) Pastor-professor X pregador-ator

Eis o dilema existente no evangelicalismo moderno. O pastor-mestre foi substituído pelo pregador-carismático-ator. O mestre que orientava a sua congregação nas Sagradas Letras, sendo um homem de estudos e contemplativo, era característico de piedosos servos de Deus, como Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, D. L. Moody etc.
O púlpito tem sido morto pelo estrelismo de pastores-atores, que confundem a plataforma da igreja com um palco para entretenimento, são pessoas que pregam o que a congregação quer ouvir e fazem de seus carismas uma imposição de sua pessoa. Quem estuda a história da igreja, verá que os piedosos servos de Deus, da Reforma as Grande Despertamento do século 18, eram homens de grande interesse pela pregação expositiva, onde o texto fala por si só. A partir do século 19, os sermões são cada vez mais temáticos e os pregadores mais articulados no estrelismo.
O Movimento Pentecostal peca, e gravemente, em não valorizar os sermões bem preparados e articulados, ungidos pelo Espírito Santo, para edificação da congregação. Em uma piedade aparente, muito exaltam a ignorância como virtude, justificando os sermões artificiais, sem profundidade e recheados de chicles, modismos e até heresias.

Autor: Gutierres Siqueira | Teologia Pentecostal


Referência Bibliográfica:

1. BOYER, Orlando. Heróis da Fé. 15 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 03.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Violência - Retrato de uma Sociedade sem Deus

A violência está em toda parte. Não podemos passar um dia sem ouvir uma notícia
sobre atos violentos nos meios de comunicação. Entretanto, mesmo ocorrendo em
nosso país, em nossa cidade, em nosso bairro, a questão pode ficar um pouco
distanciada e acadêmica até que somos vítimas da violência, ou alguém próximo a
nós sofre algum tipo de agressão. Assaltos são cada vez mais comuns, seqüestros
deixaram de ser um pesadelo apenas para os ricos e a violência se agrava muitas
vezes seguida de assassinato. Uma estatística recente, na cidade de São Paulo,
indica que uma em cada duas pessoas já foi assaltada. A impunidade se alastra,
os governos se omitem, o ideal expresso por Paulo, em 1 Tm 2.2, onde ele nos
comissiona a orarmos pelos governantes e autoridades, - para que possamos ter
uma vida “tranqüila e sossegada, em toda a piedade e honestidade”- parece cada
vez mais distante. Os casos a seguir são reais e ocorreram todos com famílias
evangélicas, irmãos nossos, aqui no Brasil:
1.Um pai de família com alguns de seus filhos retornava para a propriedade rural
que possuem em um estado do Norte do Brasil. O veículo é emboscado e atacado a
tiros. Morre o chefe da família e um dos filhos. Deixou a esposa viúva, com
vários filhos e filhas.
2.Outro pai de família de classe média, que reside no estado do Rio de Janeiro,
é seqüestrado e permanece em cativeiro por três semanas, sob constantes ameaças
de morte, até que é libertado, sem o pagamento do resgate. Meses depois, ele e
toda a sua família, permanecem ainda traumatizados com a ocorrência.
3.Um missionário que reside na periferia de uma grande cidade nordestina, tem a
sua propriedade invadida por três homens. Durante quase três horas eles
aterrorizam a família e estupram a sua esposa e a sua filha mais velha, abusando
também da outra filha adolescente.
Qual é a nossa reação e compreensão do problema da violência? O que tem a
Palavra de Deus a dizer sobre o assunto? Qual a responsabilidade dos governantes
e das autoridades? Qual deve ser a postura do servo de Deus, numa era de
violência e criminalidade?
1.A violência é um problema moderno?
No Salmo10, David, seu provável autor, descreve o homem violento da seguinte
forma (vs.6-8):Pois diz lá no seu íntimo: Jamais serei abalado: de geração em
geração nenhum mal me sobrevirá. A boca ele a tem cheia de maldição enganos e
opressão; debaixo da língua, insulto e iniquidade. Põe-se de tocaia nas vilas,
trucida o inocente nos lugares ocultos; seus olhos espreitam o desamparado.
A bravata acompanha a violência, assim como a linguagem desses é cheia de
blasfêmias e maldição. Os atos, entretanto, não refletem a coragem propagada.
Esses são, via de regra, traiçoeiros e ciladas armadas contra os desamparados e
indefesos.
A violência caracterizou o homem desde seus primeiros passos, logo após a queda.
A Palavra de Deus nos relata a história do primeiro homicídio, em Gn 4.1-24. Lá,
tomamos conhecimento como a ira de Caim contra seu irmão, Abel, o levou a
cometer assassinato. Entre os descendentes de Caim, Lameque era violento e
reagiu a agressões sofridas também com assassinatos (Gn. 4.23-24). Aparentemente
Lameque, além de ser violento, alardeava o fato, ou seja, refletia aquela
postura de vida dos ímpios, tantas vezes descrita pelo salmista, que, cheios de
auto-confiança, em vez de se envergonharem dos seus atos, se gloriam na própria
violência. No Salmo 73:6 lemos - “a violência os envolve como um manto”.
Assim, antes do dilúvio, a violência já permeava a terra. Gn. 6.11 diz: “a terra
estava corrompida à vista de Deus, e cheia de violência”. Após o dilúvio, Deus
destruiu Sodoma e Gomorra pela impiedade, violência e imoralidade existentes
naquelas cidades. Em Gn 19.5 lemos que quando os anjos visitaram a Ló, os homens
da cidade procuraram arrombar a casa para arrancarem os dois varões formosos,
para os molestar sexualmente. Mas adiante, ainda no livro de Gênesis, lemos que
Jacó, em suas palavras finais, condenou a violência de dois de seus filhos -
Simeão e Levi, pois utilizaram a espada não para defesa, mas como “instrumentos
de violência” (49.5 e 6) para matarem homens e mutilarem touros.
Abimeleque, filho de Gideão, assassinou seus setenta irmãos, para conservar
sozinho a liderança, após a morte do pai (Ju. 9.24). A violência marcou a vida
de muitos reis de Israel, ao se afastarem dos caminhos de Deus. Violência foi
também, inúmera vezes, praticada contra o povo de Deus, pelos seus inimigos.
Violência maior foi praticada contra o Nosso Senhor Jesus Cristo, torturado,
espancado e pendurado pelas mãos e pés, com pregos, em uma cruz, culminando com
uma morte lenta e dolorosa, por asfixia, sem ter qualquer pecado. Ali ele sofria
violência e punição e morria em substituição aos seus amados que constituem a
sua igreja - aqueles que, pela graça de Deus, o reconhecem como Salvador e
Senhor de suas vidas. Muitos de seus discípulos experimentaram violência, ao
longo de suas vidas, encontrando morte violenta, antes de passarem à glória
eterna. O capítulo da fé, Hebreus 11, fala dos servos fiéis que experimentaram
açoites, escárnios, prisões, torturas e mutilações, ficando necessitados,
aflitos e maltratados.
A violência, portanto, por mais presente que esteja em nossa era, não é um
problema moderno. Temos a tendência de sempre olhar o nosso tempo época como a
pior que já existiu, mas quando lemos os relatos acima, da própria Palavra de
Deus, vemos a violência, imoralidade, crueldade e impiedade sempre presentes no
mundo. Ocorre que ela é uma conseqüência do pecado e sendo assim, a violência
está presente desde a queda de Adão, aparecendo as vezes com maior, outras vezes
com menor intensidade nas diversas épocas da história da humanidade. É verdade
que as pessoas sem Deus encontram, cada vez mais, formas sofisticadas de
exercitar a impiedade, mas lembremo-nos que mesmo que sejamos vítimas de
violência, Deus está presente e reina soberano, executando justiça em seu
próprio tempo. Os problemas que possamos estar atravessando com certeza já
fizeram parte da experiência de outros servos Seus. 1 Co10.13 nos ensina que as
provações a que somos submetidos não são exclusivas à nossa experiência, mas são
humanas, ou seja, comum aos demais homens, e que Deus nos concede a habilidade
de poder suportá-las.
2. Como procurou Deus restringir a violência?
O dilúvio foi um ato de julgamento de Deus contra a violência que campeava a
terra. Foi assim que Deus falou a Noé (Gn. 6.13): “Então disse Deus a Noé:
resolvi dar cabo de toda a carne, porque a terra está cheia de violência dos
homens: eis que os farei perecer com a terra”. Deus atingiu o mal na raiz,
deixando para repovoar a terra apenas a família que lhe era temente. Deus,
portanto, abomina a violência e não é sem razão que o Salmo 34:16 diz, “O rosto
do Senhor está contra os que praticam o mal, para lhes extirpar da terra a
memória.” Os violentos não terão herança com Deus. Ele é contra o que oprime e
extorque (Salmo 35.10). Após o dilúvio, para o controle da violência, Deus
instituiu a pena de morte (Gn 9.6), muito antes da lei civil da nação de Israel.
A Pena de Morte foi instituída por Deus naquela ocasião, portanto, como um dos
freios contra a violência e os assassinatos, fundamentada no fato de que o homem
foi criado à imagem dele próprio. Ela foi comandada a Noé e a seus descendentes,
antes das Leis Civis ou Judiciais, numa inferência de sua aplicabilidade
universal. Foi instituída por Deus e não pelo homem, e ela ocorreu não porque
Deus desse pouca validade à vida do homem, mas exatamente porque Ele considerava
esta vida extremamente importante. Dessa forma, perdia o direito à sua própria
vida qualquer um que ousasse atentar contra a criatura formada à imagem e
semelhança do seu criador. A pena capital está enraizada na Lei Moral de Deus
que seria posteriormente codificada no decálogo. O 6º mandamento, não matarás,
expressa o mesmo princípio da santidade da vida, contido na determinação a Noé.
Essa compreensão também é expressa na Confissão de Fé de Westminster, no seu
capítulo 23 e no Catecismo Maior, nas perguntas e respostas 135 e 136.
A lei civil de Israel fornece solo fértil ao estudo de como Deus aplicou os
princípios de sua lei moral a um povo específico, em uma época específica, com a
finalidade de promoção de seus princípios de justiça. Sabemos que a lei moral é
normativa a todos em todos os tempos e que a lei civil era peculiar à teocracia
de Israel, enquanto que a lei cerimonial ou religiosa apontava e foi
integralmente cumprida em Cristo. Entretanto, mesmo sem ser normativa para nós,
podemos verificar como o sistema de crimes e punições do povo de Israel era
destinado a fazer com que o crime realmente não compensasse e temos muito a
aprender com os registros das Escrituras. Veja esses pontos interessantes, como
exemplos:
1. No povo de Israel não existia a provisão para cadeias, nem como instrumento
de punição nem como meio de reabilitação. A cadeia era apenas um local onde o
criminoso era colocado até que se efetivasse o julgamento devido. Em Números
15.34 lemos: “…e o puseram em guarda; porquanto não estava declarado o que se
lhe devia fazer…”
2. Não encontramos, na Palavra de Deus, o conceito de enclausuramento como
remédio, ou a perspectiva de reabilitação através de longas penas na prisão e,
muito menos, a questão de “proteção da sociedade” através da segregação do
indivíduo que nela não se integra, ou que contra ela age.
3. O princípio que encontramos na Bíblia é o da restituição. Em Levítico 24.21
lemos, “…quem pois matar um animal restitui-lo-á, mas quem matar um homem
assim lhe fará.” A restituição ou retribuição, era sempre proporcional ao crime
cometido.
4. Para casos de roubo, a Lei Civil de Israel prescrevia a restituição múltipla.
Ex 22.4 diz “…se o furto for achado vivo na sua mão, seja boi, seja jumento,
ou ovelha, pagará o dobro.”
Assim Deus estruturou o seu povo com um sistema destinado a refrear a violência
e a criminalidade. Não há sombra de dúvidas que Deus julgará a violência e que
ampara os seus, quando vítimas nas mãos do seu semelhante. O Salmo 11.5 diz, “O
Senhor põe à prova o justo e ao ímpio; mas ao que ama a violência a sua alma o
abomina”. O Salmo 72.13 e 14 registra - “Ele tem piedade do fraco e do
necessitado, e salva a alma aos indigentes. Redime as suas almas da opressão e
da violência, e precioso lhe é o sangue deles”.
3.Qual o papel do estado, no que diz respeito à violência?
O salmo 55.9, que diz, “…vejo violência e contenda na cidade”, parece escrito
nos dias de hoje, e a visão de Ezequiel (7.23) é bem próxima à nossa realidade:
“Faze cadeia, porque a terra está cheia de crimes de sangue, e a cidade cheia de
violência”. O livro de Oséias expressa a dissolução dos costumes e dá a razão
para esse estado de coisas - o afastamento de Deus e de seus princípios de
justiça. Em 4.2, lemos: “O que prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e
adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios”. Porque? Porque
“não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus”(v. 1).
Mas qual o papel do estado, das autoridades, dos governantes no controle da
violência? Ele não pode “converter” as pessoas à força - não está em suas
possibilidades nem faz parte de sua esfera de autoridade.
Mesmo sabendo que o remédio final para a violência é o evangelho salvador de
Cristo, reconhecemos que o estado é o instrumento designado por Deus para
restringir o mal e para regular o relacionamento entre os homens. É pelas
autoridades que o constituem que oramos a Deus para que atinjamos aquele ideal
que nos referimos no princípio: que tenhamos uma vida “tranqüila e sossegada, em
toda a piedade e honestidade” ( 1 Tm 2.2). Ele é a ferramenta que o povo recebeu
de Deus para se manter em paz social.
Não cabem ao indivíduo ações violentas como reações à violência. A manutenção da
lei e da ordem não pertence a um grupo ilegal de “vigilantes” ou “justiceiros”
que massacram indiscriminadamente, sob a cobertura de estarem punindo os
criminosos. O crente não deve apoiar as ações fora da lei, por mais convenientes
que elas pareçam e por mais evidentemente criminosos que sejam os massacrados.
Ele não se gloria na guerra de quadrilhas, nem deve passar pelos seus lábios a
famosa frase: “ladrão bom é ladrão morto”. Mas Deus não quer os cidadãos
indefesos. O estado constituído, os governantes, as autoridades estabelecidas,
em qualquer sistema, são ministros de Deus para aplicação dos princípios de
justiça.
Sabemos que existem governos negligentes e corruptos. Isso sobrevirá como uma
terrível responsabilidade perante aqueles comissionados com a tarefa de
governar, mas o preceito de Deus é que o governo correto deve ser o que louva ao
que faz o bem e o que é vingador para castigar o que pratica o mal. Assim sendo,
não é sem motivo que possui armamentos para tal (”traz a espada”), como lemos em
Rm 13.1-7. Lembremo-nos, também, que Paulo, sob a inspiração do Espírito Santo,
escreveu suas palavras não debaixo de um governo ideal, constituído de
governantes crentes e tementes a Deus, mas sob um governo imposto, autoritário,
invasor e também corrupto, mas nem por isso menos responsável diante de Deus.
A violência, conseqüência do pecado, está assim diretamente ligada à omissão dos
governos e das autoridades. Ela cresce na medida em que cresce a impunidade e o
desrespeito ao homem como criatura de Deus, criada à sua imagem. Quanto mais o
estado age como ministro de justiça da parte de Deus mais decrescerá a
violência. Por outro lado, a sua parcialidade com os mais ricos, protegendo o
acúmulo de riquezas angariadas indevidamente, aprofundará os abismos e carências
sociais, gerando mais e mais problemas criminais. A sua visão atenuada da
criminalidade, na busca de explicações sociais, encorajará mais e mais violência
na terra. É necessário, como indivíduos tementes a Deus, que tenhamos a visão
clara de que a principal função dos nossos governantes é exatamente a promoção
da paz social, com a visão aguçada do bem e do mal, nos termos expressos pelas
Escrituras. Tudo o mais em que se envolvem deveria ser secundário a esse dever
bíblico principal para com os seus cidadãos. Devemos constantemente relembrar
isso aos nossos governantes.
4. Qual o comportamento do Crente em uma era de violência?
Mesmo a violência sendo algo que acompanha os passos da humanidade submersa em
pecado, é realidade que vivemos em uma era violenta, em um país violento. Como
crentes, devemos relembrar os seguintes pontos:
1. Se somos vítimas de violência. Podemos ser vítimas de violência, como vimos
nos exemplos mencionados na introdução, ou como já pode ter sido a sua
experiência. Pode ser que você esteja agora sendo vítima de violência doméstica
e ninguém sabe disso. Lembre-se que Deus reina soberanamente e ele tem um
propósito para tudo, mesmo que não entendamos o que está ocorrendo, em um
determinado ponto de nossas vidas. Se o irmão ou irmã está sendo vítima de
violência, no temor do Senhor e em oração, procure a ajuda e aconselhamento em
sua Igreja, com o seu pastor, com um dos oficiais, com um irmão ou irmã amiga.
Saiba que Deus não lhe desampara (Sl 72.13-14). Se você já foi vítima de
violência, ore para que possa agir como o apóstolo Paulo, quando escreveu em 1
Co 1.4, “É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos
consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós
mesmos somos contemplados por Deus”. Peça a Deus que lhe console e que lhe
conforte, mas vá além disso - ninguém entende mais o que uma outra pessoa, que
foi vítima de violência, está passando, do que você, que também já foi.
Aproxime-se, console-a também. Paulo continua, no v. 6: “Mas, se somos
atribulados, é para o vosso conforto”. Ore para que Deus lhe use bem como a sua
experiência tão adversa e devastadora para o bem do seu Reino.
2. Não confiar em nossas próprias forças. O Salmista, em uma era de guerras e
batalhas afirmava: “Não confio no meu arco e não é a minha espada que me salva”
(Salmo 44.6). A sua confiança estava no Senhor, e por isso ele continua:
“Levanta-te para socorrer-nos, e resgata-nos por amor da tua benignidade”. Que
Ele seja também a nossa confiança e fonte de poder.
3. Procurar Refúgio em Deus. O medo existe em meio à violência, mas Deus é maior
do que todos e ampara os seus. O Salmo 22 é um salmo messiânico profético que
retrata a violência que seria cometida contra o ungido de Deus, Cristo Jesus.
Mas ele é também o reflexo da experiência de David. Houve ocasiões de mêdo em
sua vida: “derramei-me como água e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu
coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim (v.14)”, mas a confiança no
livramento de Deus era constante: “Livra-me a minha alma da espada, e das presas
do cão a minha vida”(v. 20). Ele sabia que Deus ampara os seus: “Pois não
desprezou nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas ouviu,
quando lhe gritou por socorro”. Em 2 Samuel 22.3 temos o registro de David
exclamando: “Ó Deus, da violência tu me salvas.” Não deve haver desespero,
portanto, na vida do crente. Oremos por coragem advinda de Deus e para que ele
remova o medo e a apreensão na presença de tanta violência.
4. Nunca ser violento. O crente não deve ser violento, mas deve ser conhecido
por sua mansidão e índole pacífica. Assim somos instruídos em Mateus 5.1-12, no
sermão da montanha, por nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos poder exclamar como
Jó (16.17): “… não haja violência nas minhas mãos, e seja pura a minha
oração”. Isso quer dizer também:
- Nunca exercer violência física no lar - Com isso não queremos dizer que a
disciplina, da parte dos pais, não deve existir, mas devemos discernir entre a
firme disciplina - mencionada em Pv. 10.13 e 24; 22.15; 23.13 e 14; 29.15 - e a
violência que é fruto da ira inconseqüente, como lemos em Pv. 9.18 - “Castiga a
teu filho enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo”).
- Nunca exercer violência psicológica no lar - assim somos exortados em Ef. 6.4
“E vós pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor.”
5. Apoiar a lei e a ordem - Devemos procurar encorajar o exercício da justiça de
Deus (Jr. 22.3) “Assim diz o Senhor: executai o direito e a justiça, e livrai o
oprimido da mão do opressor; não oprimais ao estrangeiro nem ao órfão, nem à
viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar”. Nunca
devemos deixar de orar por nossos governantes, para que eles sejam ministros
eficazes de Deus (1 Tm 2.1,2a).
6. Olhar para o alvo. Devemos almejar o ideal, expresso de forma precisa,
profeticamente, por Isaías (59:18) “Nunca mais se ouvirá de violência na tua
terra, de desolação ou ruína nos seus termos; mas aos teus muros chamarás
Salvação e às tuas portas Louvor”, sabendo que Deus nos resgatou do pecado
exatamente para que tenhamos esse tipo de paz, que é um prenúncio da paz eterna,
em Sua presença.
7. Pregar a palavra. Devemos ter o convencimento que a violência, sendo uma
conseqüência do afastamento de Deus e de seus princípios tem o seu remédio final
na conversão do pecador. Nisso podemos e devemos ser agentes contra a violência,
fazendo como o profeta Jonas, que, ordenado por Deus pregou em uma grande
cidade, com resultados espantosos para nós, mas nunca impossíveis para Deus. Em
Jonas 3.8 lemos: “… e clamarão fortemente a Deus; e se converterão, cada um,
do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos”.
Autor: Presb. Solano Portela - Estudo disponível no site da Igreja Presbiteriana do Brasil